terça-feira, 29 de maio de 2012

Fugindo da chuva


      
         Estava lá eu e minha bicicleta, conversando com um colega, quando de repente ela grita lá de cima:
        -Tcháblam! (Corre pra casa senão tu vai ver!)
        E eu bem obediente, dei tchau pro guri e, com noção do meu tamanho me fui né, ela me cutucava de leve só pra me manter com respeito e me lembrar de quem eu tava correndo. Depois de sofrer tamanho desequilíbrio interno na aula por conta daquele ar condicionado que me fazia perder calor para o ambiente, acabei lutando contra a hipertermia, com ajuda do vento.
       Lá pelas tantas, quando eu tava toda compenetrada e à mil, ela grita de novo lá de cima, dessa vez com um tom mais áspero e sem paciência: -Catchammblããuuum! (pra quem não entende trovoanês, significa: corre e desliga as coisas da luz, e te comporta senão te dô-lhe no meio).
       Confesso que fiquei com medo, mas como a curiosidade ainda era maior, olhei pra trás rapidinho pra não me desequilibrar e ela tava com uma cara de furiosa, com a testa franzida e cinza. Eu até ia dizer "lero lero!" mas achei melhor deixar assim e segui correndo com os olhos estalados, afinal ela continuava me cutucando de vez em quando. Quando ela estava quase me alcançando me escondi no estacionamento do supermercado e ela como tava braba, passou reto e nem viu eu me esconder... Hahahahah! Passei por cima das pegadas dela em seguida, louca de faceira me sentindo a espertinha.
      Cheguei em casa e fechei ali na frente pra pensarem que não tinha ninguém, mas mesmo assim ela me achou. Ficou batendo na porta e nas janelas incansavelmente e, como não respondi, acabou indo embora mais calma, depois de se dar conta de que eu não tinha culpa, depois que baixou a poeira. Então o sol, sempre pacificador, veio espiar o que estava acontecendo e limpou as pegadas que ela costuma deixar. E tudo ficou bem, apesar de ela ter ameaçado voltar.